sexta-feira, agosto 28, 2009

O cheio

Eu estava de volta aos corredores cheios. Cheios de gente, cheios de banalidade, de felicidade, cheios de reclamações, de ocupações e preocupações, cheios de coisas que sequer existem. Eu estava de volta e sentia saudade do que jamais foi verdade e de tudo aquilo que simplesmente não fazia sentido. Era isso. Eu estava cansada dos espaços e das coisinhas que o ocupavam tão felizes e rotineiras. Eu estava cheia. Tão cheia desse cheio que esbanjava normalidade que tudo tornou-se dispensável de sentir e dizer.

terça-feira, agosto 18, 2009

Espelho

Conheço você. Sei das suas manias pseudo-naturais pra impressionar. Sei dos seus hábitos selecionados, sei do seu humor sutil e da súbita falta dele também, sei dos seus grupinhos fechados, das suas novas bandas preferidas de semana passada, sei da importância que você dá a coisas sem nenhuma importância, sei da jogada de marketing de se omitir, sei da necessidade da auto-definição, sei do medo, sei que você reclama, mas na verdade tudo bem. Sei também que detesta ver sofrimento e talvez por isso use óculos escuros compulsivamente. Sei que você se esforça pra não se entusiasmar demais, pra não sorrir demais, pra não se mover demais, pra não ser normal demais. Sei que você aprendeu que quando menos você se importa, mais os outros se importam. Sei que você gosta de coisas de plástico, discos de vinil, asfalto e música e não faz ideia do porque disso tudo. Sei que você precisa de fator 45 pra sobreviver, sei que você prefere dormir. Sei que você espera que essa gente algum dia faça algum sentido. Sei que seu maior medo é fazer sentido. Sei que você é tão você que as vezes se estranha. Sei que você não quer uma vida, mas um filme. Sei também que você está aí há alguns anos.