Ela era eu

Ela não quis jogar palavras afiadas, ou falar em tom irônico, não quis cuspir verdades sujas, não quis dramatizar, não quis implorar, não quis fazer piadas trágicas, não quis mandar pro inferno, não quis dizer que amava, não quis dizer o que sentia. Pela primeira vez ela não quis dizer nada porque de nada ela sabia.
Achou que talvez o 'fazer tudo certo' que ela tanto queria era um dom que o mundo não merecia.
Sorriu e fez sinal de não com a cabeça.
O coração estava um lixo, mas isso ninguem podia imaginar, pois ela apenas sorria.
O que ninguem sabia era que ela ria dessa mania que todo mundo tem de dizer e desdizer as coisas com tanta facilidade, fazendo tudo parecer meio banal. Essa mania de varrer a sujeira pra debaixo do tapete e fingir que nada aconteceu.
E Também ria da irritação que causava com o seu comportamento disprovido de qualquer reação e emoção.
Estava pronta para ser ofendida ou até chamada de autista sem sequer se preocupar em revidar.
Então andou em direção a porta se perguntando se saberia o caminho de volta, se perguntando se teria razões pra voltar e só o que se ouviu foi seu sussurro meio irritado sobre o tempo ruim lá fora.